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Comportamento inapropriado e gestão de comportamento

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Podemos iniciar esse tema, lembrando que comportamento, de acordo com a ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada), é tudo aquilo que é capaz de se observar (ações, fala, movimentos, etc). Convém lembrar também, que ao contrário do que muitos pensam o comportamento inapropriado não é apenas relacionado ao autismo. Toda e qualquer criança, independente de diagnóstico e/ou se tem algum atraso no neurodesenvolvimento pode apresentar alterações comportamentais que precisam de atenção.

Porém, vale relembrar que, cerca de 60% das pessoas com TEA vão apresentar problemas significativos de comportamento. Uma grande parcela dessas crianças vai apresentar, ao logo da sua vida, um transtorno grave de comportamento. Caso esses comportamentos sejam de um nível muito elevado, eles irão afetar consideravelmente a qualidade de vida da família, a qualidade de vida da criança e o seu potencial de aprendizagem de desenvolvimento. 

Uma criança que apresenta alteração comportamental acaba diminuindo o seu convívio social, fazendo com que os seus pares (colegas) não queiram mais interagir com essa criança. No caso da criança com TEA, que tem menor tendência de buscar essa interação com os amigos, interfere ainda mais, afinal quando ele tem comportamento inapropriado, mesmo que esporádico, acaba criando um efeito duplo: em que ela procura pouco os seus pares, e o seu par procura pouco esta criança. Diante disso, esses comportamentos causam baixa interação e afetam diretamente todo seu processo de aprendizagem e evolução. 

O que são esses comportamentos inapropriados?

Podem ser múltiplos comportamentos que afetam o desenvolvimento da criança ou a sua capacidade de adaptar ao ambiente em que ela se encontra (casa, escola, clínica, shoppings, praças, etc.). Podemos citar como comportamentos inapropriados: comportamento de agressão, de auto agressão, cuspir no chão, jogar objetos, bater no outro, chorar para obter aquilo que quer, fugir frequentemente de contatos sociais, controle de situações e materiais e objetos, etc. 

Após compreender todo esse contexto, temos que ter a consciência que a gestão de comportamento é de suma importância. O termo “gestão de comportamento inapropriado” nada mais é do que formas de aprender a gerenciar comportamentos desregulados e desafiadores. Vale ressaltar que, a gestão não está associada à comportamentos rudes e sim na forma de compreendermos esse comportamento e analisar a melhor forma de agir com ele. Dessa forma, é muito importante, nós compreendermos que não basta eu reduzir os comportamentos inapropriados, eu preciso ensinar comportamentos que vão substituir aqueles que são considerados inapropriados. 

Uma prática muito comum de profissionais que atuam com pacientes com TEA é sempre pedir para os pais ignorarem esse comportamento. Porém, temos que lembrar que essa é uma medida muito superficial, porque ela não considera os procedimentos, hoje, considerados como ideais para se ensinar a criança; para substituir os comportamentos inapropriados por comportamentos apropriados. Ignorar o comportamento, ou seja, fazer um procedimento de extinção nem sempre é apropriado.

Muitas vezes, a função do comportamento não é a atenção e ato de ignorar surge muito pouco efeito. E, em alguns casos, pode até mesmo aumentar a frequência desse comportamento inapropriado. 

De forma, reduzida, podemos demonstrar que existem 4 etapas a serem seguidas que são necessárias que irão auxiliar a forma de como gerenciar os comportamentos inapropriados e ensinar novas habilidades que vão substituir tais comportamentos: 

1ª Etapa: Compreender qual é a função do comportamento inapropriado. 

Todos os comportamentos tem uma função, sendo as principais: obtenção de algum objeto tangível, fuga, atenção e controle. Sem identificar a função do comportamento é impossível passarmos para a próxima etapa. 

2ª Etapa: Não reforçar o comportamento inapropriado.

3ª Etapa: Realizar a seguinte pergunta: “O que eu gostaria que a minha criança fizesse no lugar desse comportamento inapropriado que ela esta realizando nesse momento?”

4ª Etapa: Ensinar esse comportamento que eu escolhi. 

Se a criança toda vez que quer uma bola, ela chorar e você entregar essa bola. Ela vai aprender que, quando ela quer a bola ou qualquer outro objeto basta ela chorar. Essa ação vai interferir diretamente na aquisição de linguagem. Afinal, para que ela vai falar se ela consegue apenas ao chorar? Então, o que nós faríamos nesse caso? 

Etapa 1- Identificar a função: Eu quero a bola- obtenção de objeto tangível. 

Etapa 2– Se eu estou entregando a bola com o choro, essa etapa me orienta que eu não posso entregar o objeto enquanto essa criança está chorando.

Etapa 3– Nesta etapa, eu vou pensar como eu gostaria que essa criança estivesse pedindo a bola, sem usar o choro. 

Etapa 4– Essa etapa nada mais é do que justamente ensinar esse comportamento, que pode ser através do gesto (apontar), ou me puxar para conseguir o objeto, ensinar a criança a usar o alcance dirigido, através da comunicação alternativa (uso de figuras e tablet) ou através da fala (vocalização intencional). Qualquer um desses comportamentos seriam mais apropriados do que o choro. 

Imagine uma criança que para todo que ela quer obter ou para quase tudo, ela utilizar o choro? Isso é um sinal de alerta! Se toda vez que ela chora, ela obtém o objeto e não precisa fazer um ato mais funciona, esse comportamento vai aparecer cada vez mais. 

O assunto sobre comportamento e gestão é bem amplo e requer sempre um conhecimento detalhado sobre todo o contexto.